quarta-feira, 18 de março de 2009

Crendices populares

No meu primeiro dia de trabalho depois das férias, como de costume, fiz meu relato de viagem para o Vítor, que me perguntou que tal eram as estradas na Argentina. As estradas lá têm pedágios em sua maioria com preços módicos e, por consequência, super bem cuidadas - pelo menos as "rutas nacionais" por onde passamos, com destino à San Rafael (RN 155) e Mendoza(RN 07) - e com quase nenhuma curva (!). Quando passamos pela pampa era um nada por todos os lados e um medo de dormir devido ao tédio da paisagem!
Mas, sem dúvida, uma das coisas que mais me intrigou foram esses altares vermelhos na beira da estrada (e eu lá sabia que na Argentina tinha macumba, minha gente???). Mas não se tratava de macumba, e sim do culto ao Gauchito Gil, uma figura popular que é devotada como santo por muita gente. A história do Gauchito é cheia de versões e incertezas, pelo que andei pesquisando uma das versões é a seguinte: o gaucho Antonio Mamerto Gil Núñez participou da guerra da triplíce aliança e da guerra civil em Corrientes, onde desertou, foi capturado e morto. Diz a lenda que, antes de morrer, Gil pediu para rezarem em seu nome por seu filho doente e este se reestabeleceu, o que foi considerado um milagre. Outra versão diz que quando foi capturado o gauchito disse para o comissário que o prendeu que seu filho estava doente, ao chegar em casa e ver seu filho enfermo o comissário rezou em nome do gauchito Gil e seu filho se curou.Tal crendice não conta com o aval da igreja católica que classifica a devoção ao gauchito como mera superstição.
Mas as crendices não param por aí. Outro dia estávamos perto de Nihuil, quando vi uma montanha de garrafas pet e comentei com meu jeito ecológico de ser "quanta gente porca nesse mundo, heim?!", mal sabia eu que cometia uma blasfêmia, pois aquilo era um altar em homenagem à defunta Correa! Isso mesmo, outra figura mítica que é cultuada por muitos como santa não só na Argentina mas também no Chile! A lenda é bem interessante: María Antonia Deolinda Correa resolveu seguir seu marido, recrutado para a guerra civil, e atravessou o deserto de San Juan levando consigo seu filho lactante. Os mantimentos e água acabaram e Correa morreu de sede e exaustão. Mas, para espanto de todos, quando seu corpo foi encontrado seu filho ainda estava vivo, supostamente graças ao leite que o corpo da mãe continuou produzindo mesmo depois de sua morte. O evento foi considerado um milagre e até hoje são construídos altares para a defunta Correa, onde as pessoas deixam como oferendas suas respectivas garrafas.
Curiosidades: O santuário oficial do gauchito fica a 8km de Mercedes, província de Corrientes e o local de peregrinação à defunta Correa fica em Vallecito, província de San Juan.
No Chile existe uma banda de rock chamada Difuntos Correa, que usa tal nome em razão desta tradição popular.

2 comentários:

Ralph Luis disse...

welcome back!!!!
estive na sua terra!
bjks

Analicelmrs disse...

Estive agora fazendo uma viagem pela Argentina e Chile e percebi todas essas homenagem na beira da estrada porém não sabia o q significava.
Gostei do teu relato.
Parabéns.